Entender a ligação entre a Nutrição, o Exercício e o Carcinoma na Próstata

13-11-2018 17:52

A nossa sociedade moderna é caracterizada por um estilo de vida com níveis baixos de exercício, acompanhado por uma alimentação altamente calórica e ácida, predominantemente constituída por carboidratos, gordura e sal. Mas o seu corpo responde a isso, na única maneira que sabe: ele armazena o excesso calórico como gordura a fim de preparar o corpo para períodos prolongados de fome. Obviamente, como hoje em dia estes períodos não acontecem como aconteciam há centenas de milhares de anos, este mecanismo de segurança apenas quer dizer que iremos continuar a ganhar peso em forma de mais gordura, que é armazenada.

Este excesso de gordura, especialmente a gordura localizada no perímetro da cintura, está associada a um maior risco de um grande número de doenças, incluindo a doença cancerosa da próstata. Mas você não precisa ser obeso para sofrer os efeitos malignos do tecido adiposo a mais. O tecido adiposo (gordura corporal) é, na realidade, considerado como um órgão com bastantes funções. Ele segrega substâncias hormonais e proteínas especializadas que podem aumentar a inflamação e a oxidação nas células do seu corpo – dois processos naturais que contribuem fortemente para o desenvolvimento e progresso da doença cancerosa na prostata.

A solução será sempre, comer racionalmente e fazer exercício para manter o seu peso normal e seus músculos em boa forma.

Efeitos da oxidação e inflamação

O oxigénio é essencial à vida, mas a química do oxigénio e da oxidação auxilia o desenvolvimento de carcinoma. A oxidação é uma reacção química comum que ocorre no interior de todas as nossas células quando existe formação de radicais livres. Cada átomo de oxigénio contém dois electrões desemparelhados, isto é, quimicamente acessíveis para reacção. Ora se um átomo de oxigénio é exposto a um forte aquecimento ou a radiação de alta frequência, os electrões são separados do átomo, conduzindo á formação de radicais de oxigénio. Estes radicais são livres para vaguear pelas células e iniciar processos de destruição de várias estruturas celulares, causando danos ao nível dos tecidos e promovendo o desenvolvimento de carcinoma. Quanto mais radicais livres presentes, maior o dano e consequente indução de carcinoma.

Este processo é semelhante ao que acontece durante o acastanhar de uma maçã após ter sido cortada ao meio e o seu interior ter sido exposto ao oxigénio do ar. Os átomos de oxigénio do ar interactuam com o açúcar da maçã, formando radicais de oxigénio. Estes radicais decompõem os tecidos da maçã, isto é, oxidam-no, e a maçã começa a apodrecer.

Enquanto a casca da maçã proteger o tecido interior da exposição directa ao oxigénio, este não será oxidado. Mas quando os antioxidantes protectores são removidos, o dano da oxidação acontece sem impedimento. Da mesma fora, o nosso corpo é dotado de mecanismos de defesa sofisticados contra a oxidação. Mas quando estas defesas cedem, começa a ocorrer a formação de células cancerosas e o seu crescimento é permitido.

Uma das causas mais comuns para a perda de antioxidantes protectores é a inflamação, um processo bioquímico que o nosso corpo inicia quando combate uma infecção. Se o corpo pressente invasores, como bactérias, glóbulos brancos serão mobilizados para o sítio da invasão para libertar radicais de oxigénio e nitrogénio para ajudar a matar os invasores. Infelizmente, se ficarem por verificar, estes mesmos radicais podem também destruir células e tecidos normais do corpo e promover o desenvolvimento de carcinoma. Os radicais de oxigénio danificam o nosso ADN, causando erros que induzem o carcinoma.

De facto, investigadores têm notado a presença de células inflamatórias virtualmente em todos os tecidos cancerosos de próstata que são removidos cirurgicamente; além disso, ainda têm verificado que a inflamação leva à atrofia de tecido de próstata normal em redor das áreas de tecido de próstata pré-canceroso e canceroso.

Com isto e muitas outras observações análogas, está-se a tornar evidente que a inflamação e a oxidação têm papéis cruciais no desenvolvimento do carcinoma na próstata. Mas porque é que isto é tão importante? Pois, apesar de alguns factores que contribuem para o carcinoma na próstata são difíceis ou mesmo impossíveis de mudar (como o envelhecimento ou a secreção alterada de hormonas), os hábitos de nutrição e exercício físico que reduzem a inflamação e a oxidação podem ser mudados!

Existe um grande número de substâncias antioxidantes e anti-inflamatórias que podem ser encontradas em frutos coloridos e vegetais e ainda especiarias – e quase todas elas estão ausentes na comida processada que incide essencialmente em açúcar, sal e gorduras hidrogenadas para intensificar o sabor (e torná-lo viciante). Ao concentrar a sua dieta em frutos e vegetais frescos, peixe de oceano (óleos ómega-3) e sementes, você irá aumentar os componentes anti-inflamatórios da sua dieta e começar a ser beneficiado pelos seus efeitos.

Por exemplo, produtos baseados em tomate, como sopas ou sumos, podem aumentar os níveis do antioxidante licopeno na glândula prostática. Ingerindo bebidas como sumo de romã e chá verde pode aumentar os níveis polifenóis contentores de antioxidantes. Os vegetais crucíferos, como os bróculos, as couves de Bruxelas, o ‘bok choi’, ou o rábano, todos eles contêm substâncias que induzem a produção de proteínas protectoras no fígado e nos tecidos, enquanto as vitaminas, minerais, extractos de frutos e vegetais, ervas e especiarias todos actuam contra a inflamação e a oxidação.

Finalmente, investigações recentes têm sugerido que exercício regular poderá ser um dos melhores antioxidantes naturais. Exercício regular provoca bastantes mudanças no corpo que ajudam a reduzir os níveis circulantes de espécies reactivas de oxigénio inflamantes. Para além de queimar calorias, os exercícios de resistência, como andar, correr, ciclismo e natação, são particularmente eficazes a aumentar os níveis de antioxidantes naturais do corpo, eliminando as moléculas inflamatórias que levam ao carcinoma.

 

A contribuição das substâncias cancerígenas

A inflamação e a oxidação são dois dos numerosos processos naturais no nosso corpo, no entanto se forem descontrolados, podem ter uma grande influência no desenvolvimento de carcinoma na próstata. Infelizmente, ainda existem substâncias externas que também ajudam o desenvolvimento do carcinoma – mas os seus efeitos podem ser contrariados pelos hábitos de uma dieta saudável.

Uma substância cancerígena é um químico que causa, directa ou indirectamente, o aparecimento de formas mais agressivas de carcinoma. Centenas de químicos têm sido associados a mudanças celulares que levam a desenvolvimento de carcinoma e centenas mais têm sido implicados em processos que provavelmente poderão estar envolvidos no mesmo. Na sociedade industrial de hoje, é difícil evitar a exposição a estas substâncias carcinogénicas. Manter uma dieta saudável é a maneira de decrescer a exposição a estas substâncias que contribuem para o desenvolvimento de carcinoma.

Por exemplo, cozinhar demasiado qualquer tipo de carne a temperaturas muito altas produz um conjunto de substâncias cancerígenas designadas aminas heterocíclicas, uma das quais, conhecida como PhIP, têm sido demonstrada como causa de carcinoma na próstata em estudos feitos em animais. Além disso, qualquer tipo de carne grelhada em carvão, com pele intacta, produz outro conjunto de substâncias cancerígenas chamadas hidrocarbonetos policíclicos aromáticos.

Os efeitos deletérios destes dois tipos de carcinogénicos (aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) são bem conhecidos – quando as folhas do tabaco são queimadas em cigarros, são produzidas aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são inaladas e contribuem directamente no desenvolvimento de carcinoma no pulmão. Notavelmente, ao comer carnes sobre cozinhadas ou grelhadas em carvão, uma pessoa consome uma quantidade de carcinogénicos (na forma de PhIPs) equivalente a fumar o pacote e meio de cigarros por dia.

Resultados de investigações laboratoriais têm sugerido que a ingestão destas substâncias cancerígenas presentes em alimentos carbonizados desencadeia mutações no DNA da célula prostática e leva à resposta inflamatória crónica da próstata. Esta combinação entre mutações e inflamação e aparenta ser a chave para o desenvolvimento de carcinoma na próstata.

O PhiP tem a mesma capacidade mutante que fumo cigarro mas esta substância cancerígena acumula-se apenas na próstata; esta descoberta desencadeou uma data de novos estudos sobre a maneira mais saudável de como cozinhar carnes, com o intuito de proteger a próstata  de acumular carcinogénicos ao longo de uma vida)

Mudando para fontes alternativas de proteína que não estão inclinadas a formar substâncias cancerígenas quando cozinhadas,  é um importante primeiro passo em minimizar o dano causado por sobre cozedura ou por churrasco. Também, usando métodos alternativos para cozinhar carne pode diminuir dramaticamente a quantidade de substâncias cancerígenas produzidas: escolha estufar ou cozer em vez do churrasco ou das frituras na frigideira; marine a carne, e vire frequentemente a carne para evitar a sobre cozedura. Finalmente, aumente o seu consume de vegetais crucíferos, os quais têm propriedade únicas que permitem o efeito “esponja” dos carcinogénicos ou, ainda, que permitem contrariar o dano causado por estes carcinogénicos.

O efeito do excesso de açúcar

Nestes últimos 20 anos, assim como a ingestão de açúcar proveniente de comida processada aumentou incrivelmente, também a frequência de diabetes explodiu, levando muitos investigadores a implicar o excesso de açúcar na actual epidemia de obesidade existente. De facto, trabalhos recentes sugerem que o xarope de milho de frutose – uma forma de açúcar frequentemente encontrada em comida processada como bebidas suaves – é convertido a gordura muito mais rapidamente que a glucose natural.

Ainda assim, os efeitos negativos do excesso de açúcar começam ainda antes de este ser armazenado como gordura. O açúcar é a fonte principal de energia para a maior parte dos carcinomas e o carcinoma na próstata é um deles. As células normais em geral podem-se adaptar a um ambiente baixo em açúcar usando outras fontes de energia – o processo desenvolvido pela evolução quando as pessoas entravam em longos períodos de escassez e fome. No entanto, as células cancerosas, que crescem mais rápido que as células normais, não possuem a mesma habilidade para adaptarem-se em ambientes baixos em açúcares. Logo, quanto maior o excesso de açúcar consumido, maior será o estímulo para o tumor se desenvolver. De facto, vários estudos em animais sugerem que o corte no consumo de açúcares simples pode abrandar  em muito o crescimento do carcinoma na próstata.

O consumo excessivo de açúcar é ainda ligado ao crescimento do carcinoma na próstata através das suas interacções com a insulina. Quando em consumo de açúcar, o corpo produz insulina, o que ajuda na decomposição do açúcar, assegurando que o açúcar é armazenado conforme a necessidade. Quando se consome demasiado açúcar e o corpo produz constantemente níveis altos de insulina para ajudar no seu processamento, as células podem ficar imunes aos efeitos da insulina, resultando em níveis demasiados altos de açúcar no sangue – um sinal comum de síndrome metabólico e um forte factor de risco para diabetes. Além disso, níveis de altos de insulina têm sido implicados com um risco aumentado de diabetes, de doença cardíaca e desenvolvimento de carcinoma na próstata, independentemente da sua interacção com açúcar.

Juntando todas esta evidências, a investigação científica começa a sugerir que quanto mais açúcares processados você comer, mais altos serão os seus níveis de insulina e maior a probabilidade do seu carcinoma na próstata crescer.

Ainda assim, cortar no consumo de açúcar é apenas um de vários passos importantes a dar. Estudos em animais com carcinoma na próstata têm demonstrado que praticar uma restrição calórica na dieta pode abrandar muito o avanço da sua doença. Mantendo uma dieta saudável e começando um regime regular de exercício físico não só lhe irá ajudar a alcançar e manter o seu peso que sempre sonhou, mas também lhe poderá ajudar a abrandar o crescimento de carcinoma. Trabalhar com um conselheiro nutricional qualificado irá ajudá-lo a identificar comidas “boas” e “más”, enquanto trabalhar com o fisiologista qualificado irá ajudá-lo a desenvolver um regime que o manterá em boa forma física.

Juntar tudo isto

A dieta moderna e o estilo de vida sedentário poderão levar à acumulação de tecido adiposo, o que, por sua vez, poderá contribuir para o desenvolvimento de inflamação e aumento dos níveis de insulina. Ao mesmo tempo, uma dieta mais calórica, rica em açúcares e pro-inflamatória pode promover doenças crónicas relacionadas com a idade e poderá provar uma ligação importante entre nutrição e o desenvolvimento e progressão de carcinoma na próstata. Até as mais pequenas mudanças na composição corporal através de mudanças nas escolhas dietéticas ou através de exercício físico regular poderão ser altamente benéficas – tem sido demonstrado que uma pequena perda de 5% de peso pode diminuir os marcadores inflamatórios até 30% em pacientes diabéticos obesos e também pode reduzir os níveis de insulina em 20% em pessoas não diabéticas. Enquanto o peso excessivo tem sido associado com carcinomas na próstata mais severos e rapidamente progressivos, até 60% dos homens com peso corporal normal e com uma cintura com tamanho mediano carregam tecido adiposo em excesso à volta do abdómen. Concentrando-se numa dieta diária rica em antioxidantes, baixa em substâncias pró-inflamatórias e cancerígenas e, ainda, baixa em açúcares simples/processadosacompanhado de um regime de exercício físico regular – poderá fazer uma diferença crucial no melhoramento da saúde de qualquer doente de carcinoma na próstata.

Pontos Chave a Lembrar

  1. A oxidação e a inflamação são dos maiores contribuintes para o desenvolvimento do carcinoma na próstata
  1. As substâncias anti-inflamatórias e antioxidantes encontrados em frutos coloridos e em vegetais contra-actuam o dano causado pela oxidação e inflamação
  1. As substâncias cancerígenas da carne carbonizada (churrasco) podem desencadear inflamação crónica na próstata
  1. O uso de métodos alternativos para cozinhar carne e o aumento do consumo de vegetais crucíferos pode minimizar a ingestão de substâncias cancerígenas
  1. O açúcar é a fonte de energia primária para o carcinoma e estimula a produção de insulina, o que é implicado com um risco aumentado de diabetes, doença cardíaca e carcinoma na próstata.
  1. O corte no consumo de açúcar, a manutenção de uma dieta saudável, e a prática regular de exercício físico pode ajudar a abrandar o desenvolvmento de carcinoma

 

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