Obesidade e Metabolismo – Onde errámos?

13-11-2018 17:56

O genoma humano é praticamente idêntico desde à 50 mil anos, numa época onde o homem era “caçador-recolector”. Este homem consumia uma dieta com 90% de comida derivada de plantas e encontrava-se em constante actividade física de forma a sobreviver. Na era moderna, pós-industrial, a nossa actividade física é dramaticamente reduzida e a nossa dieta foi crescentemente mudada de encontro a uma dieta baseada em carne: em média um adulto consome perto de 100kg de carne e peixe por ano, um aumento de 25kg por pessoa desde há 50 anos atrás. Quando comparadas com fontes de proteína provenientes de plantas, as fontes de proteína animais são mais ricas em gordura saturada, baixas em fibras e mais pobre em micronutrientes, especialmente antioxidantes.

Mais de 50% dos adultos nos EUA não comem uma única peça de fruta por dia e mais de 80% não pratica o consumo recomendado de 5 porções de fruta e vegetais por dia. De facto, se eliminarmos as batatas da equação, o cidadão americano médio come menos de 2 porções de vegetais e fruta por dia. Ao mesmo tempo, apenas 20% dos adultos americanos pratica directrizes mínimas de exercício físico por pelo menos 30 minutos por dia, três vezes por semana.

A dieta Ocidental moderna eliminou virtualmente a subnutrição na maioria da população. No entanto, grande parte das escolhas dietéticas individuais são de meios limitados, ou para aqueles que são ignorantes quanto a relação entre comida e saúde, são de valor nutricional pobre e faltam-lhes vitaminas e minerais chave. De facto, as comidas mais baratas disponíveis hoje em dia fornecem menos nutrientes por caloria do que as comidas mais caras o fazem.

Portanto, no processo de resolver o problema da subnutrição através da industrialização, nós criámos um fornecimento alimentar low-cost que promove uma epidemia global de obesidade. Além disso, o estilo de vida largamente sedentário indicativo de uma sociedade “avançada” significa efectivamente que temos de pagar por exercício físico – com dinheiro, tempo ou ambos – porque exercício na forma de trabalho físico árduo, como parte do nosso dia-a-dia, é escasso.

Múltiplos estudos na década passada têm mostrado uma incidência aumentada de obesidade, doenças crónicas de idade, doenças cardíacas e carcinoma em populações que pratiquem uma dieta Ocidental e que possuam um estilo de vida sedentário em, relação a populações que são fisicamente activas e comam menos calorias, menos hidratos de carbono refinados, menos carne e mais frutos e vegetais. Para perceber porque é que esta mudança de estilo de vida teria tal pronunciado efeito na saúde humana, investigadores têm começado a ter mais atenção aos verdadeiros efeitos do síndrome metabólico e aos seus conspiradores, excesso de gordura corporal e perda muscular, no corpo humano.

 

A Síndrome Metabólica

Durante muitos anos, os médicos notaram que pacientes obesos ou com peso acima da média têm frequentemente as seguintes doenças em comum – alta tensão arterial, elevados níveis de açúcar no sangue ou diabetes, elevados níveis de gordura no sangue, especificamente triglicéridos. Em adição, verificava-se que estes pacientes estavam em maior risco de desenvolver resistência a insulina e a diabetes tipo II.

Como estas doenças diferentes são tão comuns, a sua coexistência parecia ser uma simples coincidência – ao fim de contas, doenças comuns ocorrem frequentemente. No entanto, nas duas últimas décadas, a coexistência destas doenças, colectivamente conhecida como síndrome metabólicos, foi descoberta como tendo uma causa subjacente - gordura abdominal aumentada e resistência à insulina.

A síndrome metabólica afecta até 50% dos americanos entre as idades 45 e 65 anos. Tendo em conta que cerca de 65% dos adultos nos EUA são obesos ou têm peso a mais, não é surpreendente que a síndrome metabólica e os efeitos prejudiciais das suas doenças crónicas componentes seja tão comum.

Efeitos do Excesso de Gordura Corporal

A obesidade é o resultado de um desequilíbrio entre o consumo de comida e exercício. Quando você come mais e faz menos exercício, começa a haver acumulação de gordura no seu corpo. Nos homens, o primeiro sítio onde a gordura se acumula é no meio do corpo, na cintura (barriga e abdómen).

Na barriga, a gordura é armazenada de forma especialmente rápida, por isso é o primeiro sítio onde a gordura assenta quando você ganha peso. Mas, também, é da barriga que a gordura vai-se embora primeiro quando você perde peso. Por esta gordura crescer tão rapidamente, às vezes pode superar a capacidade do seu fornecimento sanguíneo, provocando a morte das células gordas (ou adiposas). Quando isto acontece, o sistema imunitário do nosso corpo envia glóbulos brancos para limpar as células mortas – o que, como foi descrito anteriormente, desencadeia uma cascata de eventos inflamatórios e oxidativos que poderão ultimamente promover a doença cardíaca, diabetes e certos tipos de carcinoma, incluindo o carcinoma da próstata.

Mas os efeitos da gordura na barriga no desenvolvimento do carcinoma na próstata não são limitados ao seu impacto na inflamação. As hormonas produzidas pelas células gordas na barriga afectam a habilidade das células de “agarrar” a insulina. Por sua vez, esta resistência à insulina resulta na sobreprodução de insulina e de IGF (factor de crescimento que é molecularmente semelhante à insulina), os quais são potentes estimulantes para o crescimento do carcinoma na próstata. Quando aplicado em células prostáticas humanas em laboratório, o IGF previne a morte das células prostáticas cancerosas e ajuda-as a crescerem. Ao mesmo tempo, a libertação de proteínas especiais que se ligam e reduzem os níveis de IGF no sangue é diminuída, exacerbando, portanto, os efeitos do aumentado IGF circulante. De notar que uma destas proteínas especiais (proteína ligante a IGF -3) tem sido demonstrada como capaz de estimular directamente a morte de células cancerosas da próstata – compondo os efeitos da perda de proteínas ligantes a IGF resultantes da resistência à insulina e da gordura na barriga.

Para além dos efeitos do excesso de massa gorda no corpo as consequências do desequilíbrio calórico que levam à acumulação de gordura podem ser significantes. As células cancerosas crescem mais rapidamente do que as células normais e requerem menos energia excedente para o seu crescimento. Logo, excesso calórico – acima das suas necessidades fisiológicas – irá ajudar a alimentar o crescimento do tumor.

Também, tumores que crescem rapidamente vivem no limite da sobrevivência devido à falta de um fornecimento de sangue adequado e baixos níveis de oxigénio. Sem oxigénio, as células não conseguem decompor a gordura e, em vez disso, dependem de açúcares e hidratos de carbono para energia. Portanto, quanto maior o consumo de açúcar, maior a disponibilidade de nutrientes para o tumor.

Em estudos animais, o corte no consumo de hidratos de carbono demonstrou causar um decréscimo drástico no crescimento de tumores. Nos estudos em humanos, esse mesmo corte demonstra ser uma das melhores maneiras para perder peso, o que, por sua vez, tem benefícios dramáticos na saúde e pode abrandar o crescimento de tumores.

Apesar de algumas investigações bastante promissoras, o grau de impacto com que o corte nos hidratos de carbono tem a longo prazo permanece desconhecido. Mas o que não é disputado é que comer açúcares simples não tem benefício real algum, promove obesidade e possivelmente crescimento de tumores, e devem ser evitados.

Efeitos da Perda Muscular

O músculo tem inúmeros papéis que desempenha no que toca à saúde. Não só os músculos são críticos para a postura, equilíbrio e movimento como também mantêm os ossos saudáveis por auxiliarem no stress físico nos mesmos. As terapias hormonais frequentemente usadas pelos homens com carcinoma na próstata avançado podem ter um efeito deteriorante nos músculos, levando a atrofia ou mesmo perda muscular. Portanto, com a perda muscular devido à idade, com a inactividade e com as terapias hormonais, os ossos tornam-se mais frágeis e a perda de equilíbrio pode levar a fracturas ósseas.

Pontos Chave a Lembrar

  1. Gordura excessiva promove resistência à insulina, o que reduz os níveis de proteínas ligantes a IGF, as quais estimulam a morte de células prostáticas cancerosas
  1. O corte no consumo de hidratos de carbono pode causar também um corte no excesso de gordura e peso e ainda abrandar o crescimento de tumores
  1. A perda de músculo devido à idade, a inactividade e as terapias hormonais podem enfranquecer os ossos e debilitar o mecanismo para aliviar a resistência à insulina

 

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